27/01/06

Não, eu não sou um fantasma

Eu não morri — não, isso ninguém viu —,
então, que olhos são esses em mim?
Se estou aqui é porque ela pediu
e eu só podia dizer sim.

Não, eu não sou um fantasma;
eu estou cada vez mais vivo.
E é vivo que assombro os dias
de quem me quis inimigo.

Desde que aqui cheguei
um só sorriso me disse: podes ficar.
Agradeci, pois, que não é preciso —
pertenço a melhor lugar.

Eu sou só um morto-vivo,
vim aqui para me mostrar;
e assim ver se irrito os risos
de quem me quis enterrar.

Se eu não morri, se isso ninguém viu,
então, que olhos são esses em mim?
Desde que entrei nunca mais ninguém riu —
não me sabia tão forte assim.

Se era apenas um fantasma
longe do mundo dos vivos,
atravessando as paredes
sem saber que era caminho.

Agora tem cuidado
com o que esses olhos são,
decerto já viste muitos assim:
tiram mais do que aquilo que dão
e matam-te os sonhos sem compaixão.

E, se pedires a minha opinião,
dir-te-ei somente: toma atenção.
Porque senão…